sexta-feira, 4 de novembro de 2011

DESABAFO

DESABAFO

Estou muito triste, sim, muito triste mesmo! Pois nessa Sexta-feira, dia 4 de novembro de 2011 a viatura da Polícia Militarde Nossa Sra. das Dores parou defronte a sede do Projeto Memórias que fica situada nas dependências do Bazar da Arte. O fato é que os membros do referido Projeto tem nos últimos anos trabalhado voluntariamente em prol do desenvolvimento intelectual da nossa população, e em especial dos nossos jovens, o que por sua vez os protegem de situações de risco, pois bem, acontece que um grupo de adolescentes que são atendidos de forma gratuita por essa instituição foram impedidos de ensaiar algumas músicas que seriam apresentadas no dia seguinte em um dos colégios da nossa cidade.

Sem saírem da viatura, os policiais chamaram os meninos e disseram que eles tinham que parar o barulho ou do contrário iam levar os instrumentos para a delegacia, o que eles alegaram: “os vizinhos” ligaram reclamando, detalhe, os policiais não revelaram quem fez a reclamação,foi o que me contaram os jovens, pois eu estava no momento da abordagem em uma sala editando um vídeo e não vi o ocorrido. Daí pergunto, o mais adequado não seria os, ou “o vizinho” entrar em contato com os representantes da Instituiçãoe quem sabe estabelecer um acordo de convivência antes de ameaça-los enviando a polícia? Será que esses vizinhos, ou o vizinho que reclamou não é um daqueles cujas ações refletem a personalidade de um individuo prepotente, orgulhoso e sem maiores preocupações com o próximo e ao meio ambiente?

O que efetivamente encontraram os policiais ao chegarem no local? Um grupo de jovens usando drogas, bebidas alcoólicas, fazendo sexo ilícito e planejando assaltar as casas dos vizinhos e as suas também? Encontraram esses policias, armas ou instrumentos musicais nas mãos desses adolescentes? Daí eu pergunto a vocês policiais e amigosprotetores da nossa sociedade, e pergunto também aos, ou porque não dizer, ao meu caro vizinhoreclamante, qual é o barulho que perturba mais, as baquetas feita de uma nobre madeira tocando a pele de uma bateria ou o som de um tiro de fuzil adentrando numa janela e atingindo um inocente? Tiro esse que pode muito bem ser acionado por um jovem cujas oportunidades e habilidades tenham sido castradas por atitudes irrefletidas, por um posicionamento meramente egoísta e insano.

Será que os vizinhos, ou o vizinho, é daqueles que já se acostumou com o barulho irritante das sirenes das ambulâncias levando para os hospitais vítimas de atos violentos praticados por certos jovens? Será que não são “esses” uma construção nossa?O que grita mais alto, um acorde de uma guitarra bem tocada ou o soar desafinado da sirene de uma viatura policial perseguindo jovens bandidos e perigosos? Diante do que o mundo apresenta aos nossos jovens, é ou não é relevante o apoio a iniciativas como essa, apresentando possíveis soluções para os eventuais problemas que nos acomete?
Poderiam os policiais ter ido embora sem procurar no ato da abordagem osresponsáveispelo estabelecimento e pela referida instituição a fim de expor a situação dialogando com a outra parte envolvida?

Bem, o fato é que estamos “errados mesmo”, somos efetivamente culpados por não termos dinheiro para construir uma sala acústica para os nossos alunos, e nem mesmo sede própria, somos culpados por eles saírem tristes com os seus instrumentos nas mãos lamentando o ocorrido, somos culpados por nossa cidade não ter um local adequado para os nossos jovens exprimir os seus talentos artísticos, sim, talvez sejamos culpados por muitos deles se tornarem bandidos perigosos, daqueles que matam pais de famílias inocentes para roubar, daqueles que matam sem piedade aqueles que são pagos para nos proteger, vocês policiais.
Sim, talvez mereçamos mesmo ir presos por “perturbarmos” a ordem pública, e de lá da delegacia sermos encaminhados aos magistrados, processados, e condenados pelo crime de formação de bons cidadãos.

Bem, são exatamente três oras da manhã, estou com a cabeça doendo muito, a gastrite a mil, o estômago dói demais, e do meu olho está descendo uma água ardida que alguns chamam de lágrima, e essas caem nos mais variados formatos, lamento, revolta, tristeza, angustia, muito pesar...

Manoel M. Moura


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